domingo, 24 de junho de 2007

O Iluminado


É com um pequeno atraso – de vinte e quatro anos para ser mais exata - que registro minha opinião acerca do filme ´´O Iluminado´´, de Stanley Kubrick.. Mas como já dizia Sócrates, o craque do Corinthians: ´´Clássico é clássico, e vice-versa´´.O roteiro quase todo mundo deve conhecer, mas não custa dar uma repassada: um zelador (Jack Nicholson) e sua família vão trabalhar num gigantesco hotel (antigo palco de um crime hediondo: o antigo zelador matou e esquartejou suas filhas gêmeas, a mulher e depois se matou) cravado no alto das montanhas, em pleno inverno. Bem, já viu a situação, o hotel fica completamente isolado, no meio da neve .O filho do casal é vidente, e entre os corredores e quartos do hotel, começa a ter visões do crime e previsões do que lhes irão acontecer. Não é preciso contar mais nada, deu-se a merda, todo mundo já matou o filme. Porém, isto não tira o encanto. Filme bom de terror, é feito de cenas de silêncio e calmaria, intercaladas com aparições misteriosas, e isto ´´O Iluminado´´ é recheado. Filme bom de terror, também envolve espíritos e outras causas extranaturais (ou extraterrenas) – ou vai me dizer que filme com maníacos, perseguindo virgens colegiais são pérolas do desespero? Algumas cenas são muito longas mas, ao contrário da chatice do ´´2001´´, contribuem para entrar no clima do filme – até aí normal, é do Kubrick mesmo, o cara adorava gastar rolo de filme - ele rodou nada mais nada menos do que 127 vezes uma cena com a atriz Shelley Duvall, até que ela ficasse do jeito como o diretor queria. Aliás, mudando totalmente de assunto, sabe aquelas festas de apartamento com meia dúzia de pessoas que não tem o que falar uma com as outras? Que tal botar um filmezinho pra quebrar o gelo? Qual é a pedida então? Temos ´´2001 – Uma Odisséia no espaço´´ e o clássico pré-histórico ´´A Guerra do Fogo´´, duas películas praticamente sem diálogos (a alegria dos deficientes visuais), relacionando o passado e o futuro com a inaptidão da raça humana para uma comunicação coerente – pois, tudo quanto é merda que houve no mundo começou por falhas na comunicação. Bem, depois desta viagem ridícula, voltamos ao que interessa:As interpretações são antológicas. Sobre o Jack Nicholson não tenho muito o que dizer, ele tem aquela cara natural de maluco e está absolutamente perfeito. O guri atormentado é uma obra, merecia ganhar um Oscar, especialmente quando conversa com seu amigo imaginário. Já a mulher do Nicholson.... bem, se era para ela parecer patética, parabéns! conseguiu! É uma ótima atriz (Shelley Duvall). Agora, caso contrário, ela corre mal pra caralho (parece uma gazela maluca com um facão na mão) e tem cara daqueles peixes mortos, embebidos em pedrinhas de gelo, expostos no açougue do supermercado. Bem, não é a toa que recebeu 1 indicação ao Framboesa de Ouro.Vale a pena assistir este clássico, que ao revés dos filmes deste rótulo, não é chato.. Preste atenção para conferir de onde vêm as idéias ´´geniais e únicas ´´ dos diretores de filmecos atuais. E acima de tudo, ´´ O Iluminado ´´ desperta sentimentos: depois dele, você vai querer procurar um machado e sair por aí decepando cabeças ou ficar angustiado, com medo que aconteça algo parecido com você. Desta vez, acredite na propaganda da capa do vídeo. (Zombie) Só uma curiosidade: Uma semana antes de O Iluminado estrear nos cinemas, Kubrick alterou o final do filme e retirou uma seqüência inteira: depois que vemos as fotos na parede do hotel, a cena se dissolveria e seríamos levados a um hospital. Wendy está descansando em uma cama e Danny está brincando na sala de espera. Stuart Ullman aparece e diz a ela que o corpo de seu marido não foi localizado. Quando Ullman está saindo, ele entrega uma bola para Danny - a mesma bola que rola misteriosamente pelo corredor antes de o garoto ser atacado no quarto 237. Ullman então dá uma risada e vai embora, enquanto Danny olha para o Overlook Hotel

Um comentário:

Vasco disse...

Roteiro - o roteiro que "todo mundo deve conhecer" - não é a mesma coisa que sinopse ou plot line.

De resto, depois dos tais vinte e quatro anos, o texto acrescentou muito ao que é sabido e pensado sobre esse filme. A descrição sobre o modo de correr da Duvall foi um ponto alto de perspicácia cinéfila. Quem dera toda resenha tivesse momentos tão bem aprofundados no sentido das cenas de um grande filme!

Definir com "aquela cara de maluco" a eficácia da atuação do Nicholson também foi um ponto invejável do texto.